quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE

 





SÃO LOURENÇO DE ASMES


 
 
     


Em: “Ermesinde, Registos Monográficos”, volumes 1 e 2, editados pela Câmara Municipal de Valongo em 2001 de autoria de Manuel Augusto Dias e Manuel Conceição Pereira, podemos encontrar um capítulo dedicado ás origens de Ermesinde com o título: “Características e origem de S. Lourenço de Asmes e Ermesinde” onde se lê:
     
    «Dotada de terra praticamente plana — com pequenas elevações aqui ou ali — numa grande extensão, demarcada a Nascente pelas serranias de Valongo e da Agrela, é irrigada abundantemente pelo Leça e por outros pequenos ribeiros (Asmes, Tinto, Agras e Balsinha), o que, associado ao clima ameno, lhe deu sempre enorme fertilidade. Tais características foram, certamente aproveitadas pelo homem, que por aqui se terá fixado, muito antes da nacionalidade.
    No contexto do secular fenómeno da Reconquista Cristã, ter-se-ia repovoado e colonizado esta zona, rica fertilidade do seu terreno e próxima da cidade do Porto, onde rapidamente, poderiam ser colocados os seus excedentes agrícolas.
     Segundo alguns autores, estas terras teriam sido pertença dos Mosteiros de Águas Santas e de
Santo Tirso, e de D. Ermezenda (donde derivaria o nome Ermesinde que até ao século XX, foi apenas um dos lugares da freguesia) Abadessa do Mosteiro de Rio Tinto. (...) Sem nos aventurarmos em teses que não podem ser provadas pela escassa documentação existente — nem esse é o objectivo deste trabalho — pode, afirmar-se contudo, que à semelhança do que sucedia com outras terras da Região e do Reino, as terras férteis de S. Lourenço de Asmes repartiam-se entre o Rei e os Mosteiros da Região, sobretudo, os de Santo Tirso e de Águas Santas.
    Para ilustrarmos o que afirmamos, juntaremos sempre que possível os documentos encontrados, alguns dos quais, certamente inéditos».
  
    O Livro das Inquirições de 1258 mandadas fazer por D. Afonso III, referem o nome de S. Lourenço de Asmes e comprovam a propriedade destas terras, o que fazem crer que estas terras tenham a mesma idade da nacionalidade.
 
    As inquirições de 1258, referentes a Ermesinde e a S. Lourenço que aqui se reproduzem na versão portuguesa, foram traduzidas do latim pelo Prof. Dr. António de Andrade, para os autores desta monografia de que transcrevo e comprovam a propriedade das terras, tanto como a existência da Paróquia de Ermesinde já nessa data, quando muitos julgavam que a mesma só teria Surgido no século XVII:
 
    As inquirições que vamos publicar pela primeira vez, são ricas em informação acerca das rendas que pagavam o povo, a quem dizia ser dono delas. Interessantes são também os nomes dos lugares, onde se situavam essas terras, alguns dos quais ainda sobrevivem, apesar da evolução urbana que toda esta zona, integrada na Área Metropolitana do Porto, tem conhecido nas últimas décadas.
     A origem de S. Lourenço de Asmes parece ter sido junto ao Ribeiro de Asmes (também conhecido por Ribeiro de Sonhos), afluente do rio Leça, cujos campos eram bastante férteis. Aí, no lugar da Fonte, teriam existido os campos de Asmes (durante algum tempo lembrados na toponímia local, entretanto alterada com a atribuição do nome Rua Nova da Fonte á antiga Rua Campos de Asmes), a respectiva aldeia e a primeira igreja da paróquia, conforme adiante se poderá verificar nas inquirições de S. Lourenço de Asmes de 1258.
    A região de Ermesinde só ficou completamente livre dos conflitos inerentes à Reconquista Cristã, no século XI, e portanto, só a partir daí é que de novo a aldeia foi renascendo, feita de gente que veio trabalhar os campos de Asmes, para entregar a maior parte da produção — sob a forma de rendas e de dizimas — ao Rei e aos Mosteiros, que nesta Região, compartilhavam as terras e a gente rural. Estes Mosteiros foram, como se vê nas Inquirições, os de águas Santas e o de Santo Tirso».
 
Eis a Inquirição na versão portuguesa:
 
   «Aqui começa a Inquirição da aldeia que se chama Ermesinde e dos paroquianos de São Lourenço. Miguel João do mesmo lugar, jurado e interrogado de quantos casais há na própria aldeia, disse que eram vinte, e são do Santo Tirso e do Mosteiro de Águas Santas. Interrogado donde os obtiveram, disse que dos herdeiros. E disse que um desses casais pertence ao Senhor Rei e não lhe pagam nenhum foro. Interrogado porque razão, disse que não sabe. Também disse que o Senhor Rei tem outro casal em Baguim de Alfena, e toma conta dele o prior de Águas Santas. E disse que o Senhor Rei tem muitas heranças no lugar que se chama Valongo de Cima, e tomam conta delas os homens do próprio lugar e não pagam disso foro. E disse que noutro lugar chamado Valongo de Baixo tem um casal e tomam conta dele os homens do próprio lugar e não dão dele nada. E disse que da aldeia que se chama Cabeda metade dessa é do Senhor Rei, e os homens de Santo Tirso ocupam-na toda e não dão disso ao Senhor Rei. E disse que em Santa Cristina de Coronado tomam conta de um Reguengo os homens próprios homens do lugar e dão disso ao Senhor Rei quase nada. Interrogado como sabe todas as coisas que contou, disse que viu e passou por ali muitas vezes, porque foi durante longo tempo Mordomo de toda a própria terra. Interrogado se mora ali algum homem foreiro, disse que não. Interrogado se criaram aí algum filho ou filha de algum militar, por causa dos quais o Senhor Rei tivesse perdido o seu direito., disse que não.
    João Pedro, Pedro Fernando, Martinho Miguel, Martinho João, todos estes apresentaram o dito testemunho pela palavra e qualquer palavra por si, em segredo como tinham dito».
 
Noutra inquirição pode-se ler:
 
   «Aqui começa a Inquirição da aldeia de São Lourenço e dos paroquianos da Igreja do mesmo local. João Pelágio, prelado da mesma igreja, jurado e interrogado a quem pertence a própria igreja, disse que pertence ao Mosteiro de Santo Tirso, e para a representação do próprio Mosteiro o Bispo do Porto colocou-o na mesma. Interrogado se pagam disso ou por direito devem pagar algum foro ao Senhor Rei, disse que não. Interrogado donde Santo Tirso a recebeu, disse não saber. Interrogado sobre quantos casais existem na própria aldeia, disse que são cinco, e quatro são morabitinos por cada um. E de outro casal dá dois denários em qualquer mês ao Mordomo, e todas as vezes que entra um novo Mordomo dão-lhe moedas de ouro por cada um, e dão a si em mês dois denários para subsistência. E disse que na aldeia que se chama Asmes existem vinte casais e pertencem a Santo Tirso e ao Mosteiro de Águas Santas e não pagam qualquer foro por causa do privilégio de Águas Santas, a não ser um desses de Santo Tirso que dá ao Senhor Rei anualmente a quarta parte dum morabitino e dá ao Mordomo a subsistência e um pedido. E disse que em Ardegães há dez casais e pertencem todos ao Hospital, e não pagam nenhum foro por causa do privilégio do Hospital...».
 
 
 
CONCLUSÃO
 
    Pelo que estes autores apresentam, podem-se ler nomes de lugares que ainda hoje conhecemos ou ouvimos falar. Tomando como exemplo a actual Rua Nova da Fonte que, como leram atrás, se chamou Rua Campos de Asmes, com algum esforço podemos imaginar (sem o artificial morro da via férrea, claro!) os campos que a partir do vale do Leça subiam suavemente até ás encostas do monte dos Sonhos. Depois, subindo essa íngreme Rua Campos de Asmes até à pequena capela de S. Silvestre que serviu de matriz até à construção da igreja em 1870, podemos “ver” o casario da aldeia de Asmes.
    Para melhor ilustrar a nossa imaginação, podemos debruçarmo-nos do lado poente da ponte do Leça, que dá acesso à Bela e ver o tal Ribeiro de Asmes que aí desagua (hoje encanado), vindo dos montes de Sonhos como ainda se pode ver no terreno sul, entre o morro da via férrea e as vivendas aí construídas recentemente, como corre a céu descoberto.
    Na margem direita do rio Leça, podemos ver a Bela, que na altura era apenas um monte, que vindo das margens luxuriantes do Leça, subia suavemente o vale até Vilar, cheia de arvoredo frondoso e campos de pastagens (sem esquecer os poços de prospecção de carvão, mas disso vou falar adiante...) tendo o seu ponto mais alto no local a que chamamos “Monte da Bela”, hoje a Rua do Bom Samaritano. É um facto que na época de Asmes, esta expressão como nome de lugar já existia, embora administrativamente não constasse como nome de lugar, pelo menos com este nome, até 1938 (como consta nos registo que mostro mais à frente), embora a Escola primária da Bela tivesse o começo da sua construção já em 1935, o que prova que o lugar existia, era povoado e tinha este nome.

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