quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE


A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE




 

INTRODUÇÃO




       
     Para este despretensioso trabalho, corri ruas, tomei notas, consultei os meus arquivos de jornais e recortes antigos. Naveguei na Internet, mas... Foram principalmente importantes as monografias que li e de onde faço citações relevantes, para concretizar a ideia que tinha de reescrever um pouco da história deste Lugar de: “A Bela de Ermesinde”.
    Deixo a minha admiração e gratidão sincera a estes autores estudiosos por estas terras e pelo privilégio que me deram de os ler, sublinhando os seus exaustivos estudos, para aqui os citar, servindo os meus intentos de informar o povo e fazê-lo sentir mais orgulhoso do Lugar onde vivem. 
             
        BIBLIOGRAFIA
 
        Ermesinde — Registos Monográficos, de:
        Manuel Augusto Dias e
        Manuel Conceição Pereira
        2 Volumes – Edição da C. M. de Valongo/2001
 
        Ermesinde — Monografia, de:
        Humberto Beça
        Cª. Portuguesa Editora. Porto 1921
 
        Alfena — A Terra e o seu Povo, de:
        Padre Domingos A. Moreira e
        Padre Nuno António Maria Cardoso
        De 9 de Abril de 1973
 
        História de Valongo
        Subsídios para a sua interpretação, de:
        Joaquim de Sousa Camilo
        Edição da C. M. de Valongo/1982 
       
        “A Voz de Ermesinde” (Prof. Jacinto Soares)
        Edição do Centro Social de Ermesinde
        Em: www.avozdeermesinde.com
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SER FORASTEIRO

 
 
 
 
Esta minha terra de adopção
Onde vivo e criei filhos e netos
Mais não fiz, por defeito ou opção
Mas criei raízes e colhi afectos
 
 
  

    É verdade que não nasci aqui! Mas não me considero um forasteiro, primeiro porque resido neste lugar há trinta e seis anos, depois, foi aqui que criei os meus filhos e aqui foram crismados. Aqui me nasceram seis netos e um bisneto e como só tenho sessenta anos, 60% da minha vida foi aqui passada.
    Criei raízes, amizades e amor a esta terra, que me acolheu de braços abertos. Sou sócio dos Bombeiros, do Centro Social de Ermesinde e já fui sócio de bancada do S.C. Ermesinde.
    Com muito orgulho fiz parte da direcção da U.D.C.R. da Bela de 80/83, integrado numa equipa de homens que fizeram renascer o Clube. Sou autor do emblema e da letra do Hino. Fiz parte da Comissão de Obras que ajudou a construir o Parque de Jogos, o Parque Infantil e a sede desse Clube. Fui co-autor do projecto e construí a maqueta do Parque de jogos (infelizmente desaparecida...)
    Ajudei a fundar um grupo de amigos que durou vinte anos e ainda tem reminiscências. Colaborei em eventos culturais e recreativos. Organizei Rally’s paper’s e Passeios culturas. Enfim, ajudei o lugar onde vivo a tornar-se mais rico, humana e culturalmente.
    Posso dizer sem nenhum pretensiosismo, que só a minha timidez à mistura com um pouco de desânimo, não me deixou fazer mais. Quem me conhece, sabe do que falo.
      
 
    Num artigo de Marques de Almeida (Membro da Associação Amigos de Ermesinde), intitulado “Ser ou não ser forasteiro” em: “A Voz de Ermesinde”, de 28 de Fevereiro de 1990, pode-se ler o que define, muito bem, o que é ser forasteiro em Ermesinde,
      
    Passo a citar alguns trechos:


   «Ermesinde bem pode orgulhar-se de ombrear com as poucas vilas portuguesas que possuem mais densidade populacional.
    Na verdade, cerca de 7.500 habitantes por quilómetro quadrado, caracterizam esta vila como sendo das poucas que gozam desse privilégio.
    Hoje são bem conhecidas as fundamentais razões porque a nossa vila possui uma população já estimada em cerca de 52.000 almas.
     Com efeito, graças à criação do Caminho-de-ferro no ano de 1887 e da chegada dos eléctricos em 1916, esta vila está hoje na situação de “dormitório” da cidade do Porto, como é por muitos sarcasticamente qualificada.
    É bom que aqui fique dito, que ao fluxo populacional em massa, que se processou após a criação de tão importantes meios de comunicação, não são, de certo modo, estranhos os notórios factores de ordem económica que motivaram à opção por parte dessas populações, para se radicarem nas antigas terras de São Lourenço de Asmes.
    (...) Com o seu crescimento populacional, que transformou as suas características naturais, esta vila começou logo a sofrer um acentuado desenvolvimento nas áreas da indústria e do comércio.
    Como corolário desse grande desenvolvimento verificado, Ermesinde foi elevada, muito justamente à categoria de vila no ano de 1939.
    (...) Entre muitos habitantes de Ermesinde, que aqui vivem por acidente, creio que existem muitos com excelentes qualidades nos mais variados campos de acção, para colaborarem com todos os movimentos dinamizadores que lutam pelo progresso desta vila».
 
N/A: (Entretanto foi cidade em 1990, persistindo ainda o legitimo sonho, de ser concelho um dia!).

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE

 




ORIGENS DE ERMESINDE





 
 
 
AS ORIGENS DOS NOMES
S. LOURENÇO DE ASMES E ERMESINDE
     
      
    À volta da origem dos nomes, ou topónimos antigos, existem sempre algumas controvérsias e nunca se sabe ao certo quem tem razão. No entanto, depois de pesquisas feitas sobre o curioso assunto, trago aqui, não a solução, mas o que pude encontrar em diversas fontes, para que cada um interprete à sua maneira.
       
SÃO LOURENÇO DE ASMES
 
Sobre São Lourenço de Asmes, creio, pelo que podem ler mais adiante, que esta afirmação está coerente com a história do lugar.
       
   «No século XVII, São Lourenço de Asmes é uma paróquia perfeitamente definida. Recebe este nome, porque o padroeiro da zona do Asmes (afluente do Rio Leça) é São Lourenço.
   A zona de Asmes, são todos os campos agricultados e respectivos núcleos habitacionais de lavradores localizados entre o Asmes e o Leça.» 


 
ERMESINDE
 
Sobre a origem do nome “Ermesinde” ou “Caminho Forte”, terá sido o nome que os Suevos, quando por volta do século V ocupando território então romano, deram à via entre o Porto e Guimarães. (então a Travagem era mais Ermesinde que o centro, que só com a vinda do Caminho-de-ferro começou a ter notoriedade. Para ir a Guimarães não se passava em Ermesinde! Ainda hoje, a partir do Alto da Maia, para vir a Ermesinde tem que voltar à direita para quem vem do Porto).Como escreveram os autores de: “Ermesinde — Registos Monográficos”
       
    «Aceitando que este topónimo, deriva das palavras germânicas “Airmes” (que quer dizer: Erme) e que significa “forte”. E “Sinthes” (que quer dizer: zinde) e que significa caminho. De resto, parece-nos óbvia a existência de estradas ou caminhos a passar por terras, na ligação do Porto com a região nordestina do actual distrito, onde haveria diversas povoações, naturalmente umas mais importantes que outras.
   Ainda hoje a principal estrada entre o Porto e a “cidade-berço” passa por Ermesinde.»
      
   Os mesmos autores, ainda dão outra ideia ao escreverem que:
 
   «Ermesinde deriva do nome da abadessa do Mosteiro de Rio Tinto. Há, no entanto, quem afiance que a D. Ermezenda que dá nome a Ermesinde seja a D. Ermezenda Guterres, de finais do século IX, princípios do século X, que casou com o Conde Hermenegildo Guterres, a quem D. Afonso III (o Magno), Rei de Leão, incumbiu de governar as terras de Tuy, Porto e Coimbra.»
       
    É curiosa esta versão, sabendo que existe em Espanha um município com o nome de Hermisende, na província de Zamora e é uma comunidade autónoma de Castela e Leão. Tem uma área de 109.05 km e em 2004, tinha uma população de 383 habitantes. Pertenceu a Portugal até 1640, quando decidiu continuar a pertencer a Espanha, chamando-se na altura “Ermesende”. Neste concelho, situa-se um dos confortes do “Penedo dos três Reinos”, que outrora marcavam a fronteira entre os Reinos de Portugal, Leão e Galiza.
    Embora um pouco rebuscado e sem ter a intenção de criara mais polémica, podemos pensar que o tal Hermenegildo Guterres a quem D. Afonso III (Rei de Leão) incumbiu de governar terras de Tuy, pode ter dado o nome da esposa D. Ermezenda, ao povoado próximo da Galiza (em Zamora) que se chama hoje Ermesende.
 
 
A LENDA DA ORIGEM DO NOME “ERMESINDE”
(O ROUXINOL DA ERMIDA)
 
    «No lugar da Ermida, na margem esquerda do rio Leça, existiu há séculos um convento de frades, que além do amanho da terra para seu sustento e a moagem de farinha, com que abasteciam os conventos de Águas Santas e Santo Tirso, também se dedicavam a ensinar, entre outras disciplinas, música.
    Muito perto do convento, havia um casal que tinha uma filha de dezoito anos, muito bonita, inteligente e com muito jeito para o desenho.
    Também compunha poemas que cantava maravilhosamente. Cantava tão bem que lhe chamavam nas redondezas, o Rouxinol da Ermida.
    Recebeu ensinamentos dos mestres monges, especialmente música, aproveitando a linda voz que tinha. Cantava desde o amanhecer ás trindades, ouvindo-se a sua voz pelo vale e ladeiras do Leça.
    Mas um dia, deixou de se ouvir junto ao rio e pelas quebradas das serras, aquela voz que tinha o condão de magnetizar quem a escutava.
    Apaixonou-se pelo monge, seu professor de música, lutou contra o sofrimento de amar em silêncio. Um amor platónico que a fez perder o riso, a alegria e finalmente a voz.
    Um dia, seu pais estranhando a sua ausência, foram procura-la mas...já não assistiram ao seu último suspiro! Tinha nas mãos o esboço feito a carvão, do seu professor de música. Deixou ainda uma carta confessando o que sentia e a causa da sua morte. Foi grande o espanto dos monges, quando tomaram conhecimento da nobreza de sentimentos da menina. Com toda a pureza o Rouxinol da Ermida foi a enterrar. No convento dobraram os sinos e toda a gente do lugar chorou.
    Passaram meses e a vida decorria normal com os habitantes da aldeia, com seus hábitos, rituais e costumes. O único sinal de agitação era o monge músico, que percorria os mais estreitos carreiros e veredas daqueles sítios e a qualquer hora do dia ou da noite, cantando, cantando, fazendo-se ouvir na sua própria voz, que era afinal a mesma voz do Rouxinol da Ermida, causando estranheza nas gentes do lugar.Mas um dia... Também essa voz deixou de se ouvir, dando mais uma vez lugar ao luto. Foi o monge sineiro que ao dar as Ave-Marias viu que um vulto negro se encontrava estendido sobra uma campa. Desceu apressadamente as escadas da torre e foi deparar com o monge professor beijando a terra que cobria o corpo do Rouxinol da Ermida.
    A aldeia vestiu de luto e tristeza mais uma vez. Tal facto pôs em pânico os irmãos conventuais, que abandonaram aquela localidade, indo viver uns para o convento de Águas Santas e outros para Santo Tirso, deixando aquele lugar ainda mais solitário e triste.
    Sabe-se que os pais da menina a quem chamaram o “Rouxinol da Ermida” tiveram outra filha a quem puseram o nome de Ermida Ermesenda.»
        
     Presume-se assim, que advenha deste último, o nome actual de “Ermesinde”. Não há no entanto elementos, que possam afirmar se será esta a abadessa Dona Ermesenda que foi dona das terras da Maia e doutros lugares pertencentes hoje a Valongo. É esta a lenda que os mais antigos contavam, passando de geração em geração, para justificar o nome dado hoje à cidade de Ermesinde, outrora São Lourenço de Asmes.

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE

 





SÃO LOURENÇO DE ASMES


 
 
     


Em: “Ermesinde, Registos Monográficos”, volumes 1 e 2, editados pela Câmara Municipal de Valongo em 2001 de autoria de Manuel Augusto Dias e Manuel Conceição Pereira, podemos encontrar um capítulo dedicado ás origens de Ermesinde com o título: “Características e origem de S. Lourenço de Asmes e Ermesinde” onde se lê:
     
    «Dotada de terra praticamente plana — com pequenas elevações aqui ou ali — numa grande extensão, demarcada a Nascente pelas serranias de Valongo e da Agrela, é irrigada abundantemente pelo Leça e por outros pequenos ribeiros (Asmes, Tinto, Agras e Balsinha), o que, associado ao clima ameno, lhe deu sempre enorme fertilidade. Tais características foram, certamente aproveitadas pelo homem, que por aqui se terá fixado, muito antes da nacionalidade.
    No contexto do secular fenómeno da Reconquista Cristã, ter-se-ia repovoado e colonizado esta zona, rica fertilidade do seu terreno e próxima da cidade do Porto, onde rapidamente, poderiam ser colocados os seus excedentes agrícolas.
     Segundo alguns autores, estas terras teriam sido pertença dos Mosteiros de Águas Santas e de
Santo Tirso, e de D. Ermezenda (donde derivaria o nome Ermesinde que até ao século XX, foi apenas um dos lugares da freguesia) Abadessa do Mosteiro de Rio Tinto. (...) Sem nos aventurarmos em teses que não podem ser provadas pela escassa documentação existente — nem esse é o objectivo deste trabalho — pode, afirmar-se contudo, que à semelhança do que sucedia com outras terras da Região e do Reino, as terras férteis de S. Lourenço de Asmes repartiam-se entre o Rei e os Mosteiros da Região, sobretudo, os de Santo Tirso e de Águas Santas.
    Para ilustrarmos o que afirmamos, juntaremos sempre que possível os documentos encontrados, alguns dos quais, certamente inéditos».
  
    O Livro das Inquirições de 1258 mandadas fazer por D. Afonso III, referem o nome de S. Lourenço de Asmes e comprovam a propriedade destas terras, o que fazem crer que estas terras tenham a mesma idade da nacionalidade.
 
    As inquirições de 1258, referentes a Ermesinde e a S. Lourenço que aqui se reproduzem na versão portuguesa, foram traduzidas do latim pelo Prof. Dr. António de Andrade, para os autores desta monografia de que transcrevo e comprovam a propriedade das terras, tanto como a existência da Paróquia de Ermesinde já nessa data, quando muitos julgavam que a mesma só teria Surgido no século XVII:
 
    As inquirições que vamos publicar pela primeira vez, são ricas em informação acerca das rendas que pagavam o povo, a quem dizia ser dono delas. Interessantes são também os nomes dos lugares, onde se situavam essas terras, alguns dos quais ainda sobrevivem, apesar da evolução urbana que toda esta zona, integrada na Área Metropolitana do Porto, tem conhecido nas últimas décadas.
     A origem de S. Lourenço de Asmes parece ter sido junto ao Ribeiro de Asmes (também conhecido por Ribeiro de Sonhos), afluente do rio Leça, cujos campos eram bastante férteis. Aí, no lugar da Fonte, teriam existido os campos de Asmes (durante algum tempo lembrados na toponímia local, entretanto alterada com a atribuição do nome Rua Nova da Fonte á antiga Rua Campos de Asmes), a respectiva aldeia e a primeira igreja da paróquia, conforme adiante se poderá verificar nas inquirições de S. Lourenço de Asmes de 1258.
    A região de Ermesinde só ficou completamente livre dos conflitos inerentes à Reconquista Cristã, no século XI, e portanto, só a partir daí é que de novo a aldeia foi renascendo, feita de gente que veio trabalhar os campos de Asmes, para entregar a maior parte da produção — sob a forma de rendas e de dizimas — ao Rei e aos Mosteiros, que nesta Região, compartilhavam as terras e a gente rural. Estes Mosteiros foram, como se vê nas Inquirições, os de águas Santas e o de Santo Tirso».
 
Eis a Inquirição na versão portuguesa:
 
   «Aqui começa a Inquirição da aldeia que se chama Ermesinde e dos paroquianos de São Lourenço. Miguel João do mesmo lugar, jurado e interrogado de quantos casais há na própria aldeia, disse que eram vinte, e são do Santo Tirso e do Mosteiro de Águas Santas. Interrogado donde os obtiveram, disse que dos herdeiros. E disse que um desses casais pertence ao Senhor Rei e não lhe pagam nenhum foro. Interrogado porque razão, disse que não sabe. Também disse que o Senhor Rei tem outro casal em Baguim de Alfena, e toma conta dele o prior de Águas Santas. E disse que o Senhor Rei tem muitas heranças no lugar que se chama Valongo de Cima, e tomam conta delas os homens do próprio lugar e não pagam disso foro. E disse que noutro lugar chamado Valongo de Baixo tem um casal e tomam conta dele os homens do próprio lugar e não dão dele nada. E disse que da aldeia que se chama Cabeda metade dessa é do Senhor Rei, e os homens de Santo Tirso ocupam-na toda e não dão disso ao Senhor Rei. E disse que em Santa Cristina de Coronado tomam conta de um Reguengo os homens próprios homens do lugar e dão disso ao Senhor Rei quase nada. Interrogado como sabe todas as coisas que contou, disse que viu e passou por ali muitas vezes, porque foi durante longo tempo Mordomo de toda a própria terra. Interrogado se mora ali algum homem foreiro, disse que não. Interrogado se criaram aí algum filho ou filha de algum militar, por causa dos quais o Senhor Rei tivesse perdido o seu direito., disse que não.
    João Pedro, Pedro Fernando, Martinho Miguel, Martinho João, todos estes apresentaram o dito testemunho pela palavra e qualquer palavra por si, em segredo como tinham dito».
 
Noutra inquirição pode-se ler:
 
   «Aqui começa a Inquirição da aldeia de São Lourenço e dos paroquianos da Igreja do mesmo local. João Pelágio, prelado da mesma igreja, jurado e interrogado a quem pertence a própria igreja, disse que pertence ao Mosteiro de Santo Tirso, e para a representação do próprio Mosteiro o Bispo do Porto colocou-o na mesma. Interrogado se pagam disso ou por direito devem pagar algum foro ao Senhor Rei, disse que não. Interrogado donde Santo Tirso a recebeu, disse não saber. Interrogado sobre quantos casais existem na própria aldeia, disse que são cinco, e quatro são morabitinos por cada um. E de outro casal dá dois denários em qualquer mês ao Mordomo, e todas as vezes que entra um novo Mordomo dão-lhe moedas de ouro por cada um, e dão a si em mês dois denários para subsistência. E disse que na aldeia que se chama Asmes existem vinte casais e pertencem a Santo Tirso e ao Mosteiro de Águas Santas e não pagam qualquer foro por causa do privilégio de Águas Santas, a não ser um desses de Santo Tirso que dá ao Senhor Rei anualmente a quarta parte dum morabitino e dá ao Mordomo a subsistência e um pedido. E disse que em Ardegães há dez casais e pertencem todos ao Hospital, e não pagam nenhum foro por causa do privilégio do Hospital...».
 
 
 
CONCLUSÃO
 
    Pelo que estes autores apresentam, podem-se ler nomes de lugares que ainda hoje conhecemos ou ouvimos falar. Tomando como exemplo a actual Rua Nova da Fonte que, como leram atrás, se chamou Rua Campos de Asmes, com algum esforço podemos imaginar (sem o artificial morro da via férrea, claro!) os campos que a partir do vale do Leça subiam suavemente até ás encostas do monte dos Sonhos. Depois, subindo essa íngreme Rua Campos de Asmes até à pequena capela de S. Silvestre que serviu de matriz até à construção da igreja em 1870, podemos “ver” o casario da aldeia de Asmes.
    Para melhor ilustrar a nossa imaginação, podemos debruçarmo-nos do lado poente da ponte do Leça, que dá acesso à Bela e ver o tal Ribeiro de Asmes que aí desagua (hoje encanado), vindo dos montes de Sonhos como ainda se pode ver no terreno sul, entre o morro da via férrea e as vivendas aí construídas recentemente, como corre a céu descoberto.
    Na margem direita do rio Leça, podemos ver a Bela, que na altura era apenas um monte, que vindo das margens luxuriantes do Leça, subia suavemente o vale até Vilar, cheia de arvoredo frondoso e campos de pastagens (sem esquecer os poços de prospecção de carvão, mas disso vou falar adiante...) tendo o seu ponto mais alto no local a que chamamos “Monte da Bela”, hoje a Rua do Bom Samaritano. É um facto que na época de Asmes, esta expressão como nome de lugar já existia, embora administrativamente não constasse como nome de lugar, pelo menos com este nome, até 1938 (como consta nos registo que mostro mais à frente), embora a Escola primária da Bela tivesse o começo da sua construção já em 1935, o que prova que o lugar existia, era povoado e tinha este nome.

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE




 

S. LOURENÇO DE ASMES






S. LOURENÇO DE ASMES NA MAIA
 
       
Continuando a citar os mesmos autores, lê-se neste capítulo o seguinte:
 
   «Durante a idade média, a aldeia de Asmes foi-se tornando maior, as casas agrícolas multiplicavam-se, tanto aqui como nos restantes núcleos agrícolas em redor das margens do Leça e dos seus afluentes.
   No princípio da idade Moderna, as características da povoação rural mantinham-se. Conforme se pode ver pelos foros (rendas) que pagavam os residentes, a maior parte das terras pertencia então ao Mosteiro de Santo Tirso.
   Da carta de Foral (Uma carta de Foral era um documento particularmente importante para uma terra e para os seus habitantes porque. Para além de em muitos casos criar um concelho, continha as normas que disciplinavam as relações dos seus povoadores, entre si, e com a entidade outorgante, fixando as rendas e foros a pagar pelo povo), dada por D. Manuel à Maia (a que pertencia a paróquia de S. Lourenço de Asmes), em 1519, transcreveram os foros e tributos pagos pelos casais aqui residentes. Este documento encontra-se na Torre do Tombo e a sua cópia foi conseguida, na década de 1980, graças a um subsídio concedido pela Junta de Freguesia de Ermesinde e, cedida para publicação em A Voz de Ermesinde (nº 337, de 12.7.1988, p. 59), pelo então Coordenador dos Serviços Municipais de Cultura, o nosso amigo Dr. Jacinto Soares».
 
 
 
 
 
 
INTEGRAÇÃO DE S. LOURENÇO DE ASMES
NO NOVO CONCELHO DE VALONGO
 
    Sobre esta integração no novo concelho de Valongo, ainda pelos mesmos autores, lê-se:
 
    «As guerras civis terminaram com o triunfo de D. Pedro e dos Liberais. Em 1836, pouco tempo após a derrota de D. Miguel e dos Absolutistas, foi criado o Concelho de Valongo, como justa homenagem e gratidão ao povo valonguense que terá ajudado os liberais nesta contenda fratricida, como manifesta a própria Rainha D. Maria II que, ao promover Valongo a concelho, refere expressamente que esta terra lhe merece gloriosa recordação por ter sido dai que D. Pedro IV, seu pai, dirigiu a vitoriosa Batalha da Ponte Ferreira. A esta Batalha se referiu um dos autores desta publicação, num artigo (não assinado) que foi publicado, pela primeira vez, no “Boletim Municipal” de Janeiro de 1985 e, mais tarde em “A Voz de Ermesinde”».
    Como de pode ver, os combates nas lutas liberais travados nesta região, foram de grande importância para a causa liberal, mas também para os próprios lugares. Valongo pela justa criação do seu concelho e Ermesinde que mais tarde lhe veio a pertencer como freguesia, assim como, pelas páginas (embora tristes pelo número de mortes provocadas) que escreveu para história com os combates da Formiga.
 
 
 
AS LUTAS LIBERAIS NO CONCELHO DE VALONGO
              
“OS COMBATES DA FORMIGA”
     
 
   A Coluna do exército liberal que seguia pelo caminho da Formiga, era comandada pelo Coronel Hodges. Logo pela manhã, o Coronel Silva Fonseca já em Rio Tinto, perante o itinerário mais acidentado da serra e, muito provavelmente, por ter divisado maior número de inimigos à sua esquerda, ordenou que algumas forças seguissem pela estrada de Baguim do Monte, e fossem reforçar as tropas de Hodges.
    Mal estes soldados atingiram as primeiras colinas mais pronunciadas da Serra, talvez na área hoje ocupada pelos terrenos do Seminário do Bom Pastor (Formiga), na encosta do lado oposto ao edifício do Convento da Mão Poderosa, logo os absolutistas, em posição mais elevada do terreno e ocupando por isso, as melhoras posições de combate, começaram a disparar, obrigando a entrar também na luta as forças do Coronel Hodges, ao mesmo tempo que reforçavam com infantaria o seu ataque.
    Segundo Domingos Oliveira Silva (O Convento da Mão Poderosa), p.102), o flanco direito das forças de D. Miguel passa logo «a combater, numa frente que devia abranger a linha das alturas, actualmente ocupada pela estrada que liga o Colégio de Ermesinde [instalado preciosamente no antigo edifício do Convento da Mão Poderosa] ao entroncamento do alto de Valongo».
    Transcrevendo a Crónica Constitucional do Porto, o mesmo autor continua a descrever a batalha «o combate assim começado tornou-se então geral entre o centro e esquerda da nossa linha (liberais), e a direita e o centro da do inimigo (absolutistas). No prosseguimento das lutas, o centro principal das operações deslocou-se para o lado oposto do convento, embora no prolongamento da mesma linha: Assim, o inimigo, forçado em flanco sobre a sua direita, e atacando vigorosamente pelo centro, foi desalojando sucessivamente dos bosques e ondulações do terreno, que porfiadamente defendia; e tendo perdido afinal a esperança de resistir por aquele lado lançou-se todo sobre a esquerda» (idem, p.103).
    Segundo se sabe, o combate prolongou-se ao longo de 7 horas e, sem uma vitória clara e definitivamente de qualquer das partes, a verdade é que provocou grande de mortos e de feridos nos dois lados.
            
 
 
A BATALHA DA PONTE FERREIRA
(Freguesia de Campo)
 
     As outras forças liberais, que passaram ao lado dos combates travados na Formiga, progrediram cautelosamente, ainda no principio da manhã de 23 de Julho, até descobrirem as posições inimigas que se encontravam para lá do rio Ferreira, desde a região de Balselhas, onde estava acantonado o flanco direito do exercito miguelista, até aos pontos mais elevados da Serra do Raio, esquerda das mesmas forças, excelentemente posicionadas e armadas para mais facilmente poderem repelir o ataque dos liberais. Nem D. Pedro nem os seus oficiais desconheciam a superioridade numérica do exercito inimigo que, além do mais, escolhera atempadamente as posições dominantes que ocupava, mas a bravura dos seus homens não lhe permitiu qualquer hesitação, nem a causa pedia outra atitude se não a de ordenar o combate que se impunha. E assim, a coluna liberal que tinha progredido pelo centro, tomava posições ofensivas no Monte Calvário (S. Martinho do Campo), iniciando pelas 11 horas do dia 23 de Julho de 1832. o ansioso e vingativo tiroteio sobre os realistas que guardavam a Ponte Ferreira, cobrindo em subcutâneo o movimento da força da esquerda que, situada em Balselhas, se preparava para atacar violentamente a direita do exercito miguelista. Duas companhias de Infantaria 18, comandadas pelo Major Francisco Miranda, o Batalhão Francês sob o comando do Major Chichiri e o Batalhão Inglês do Major Shaw passaram a vau o Ferreira e fizeram recuar o flanco direito do inimigo.
    Viu-se então Santa Marta obrigado a reforçar aquela ala do seu exército, que não conseguiu aguentar a pressão das baionetas liberais, com a transferência de homens do seu flanco esquerdo que obrigaram por sua vez, os constitucionalistas a atravessar de novo o rio, acabando por ser atraídos a uma emboscada que lhes fora preparada por um esquadrão da Cavalaria de Chaves, fiel a D. Miguel. Muitas mortes então aconteceram quer do lado Pedrista, quer do lado Miguelistas. Também no centro, a violência do combate se mostrava trágica pelos cadáveres liberais e absolutistas que se empilhavam na ponte que ninguém lograra passar completamente. Antes, porem, quando os liberais já se lamentavam da derrota, o Tenente Manuel Tomás dos Santos vendo, do lado inimigo, uma coluna miguelista em movimento resolveu apontar a sua peça de artilharia que, com êxito, disparou pondo o inimigo em fuga. Lavou a honra dos liberais porque os absolutistas recuaram em direcção a Baltar, enquanto os Pedristas permaneceram nas suas posições.
     Mas de pouco valeu aos liberais o sabor da vitória porque iriam viver ainda largos e penosos meses de fome, doença e morte antes que soasse o desejado grito da vitória decisiva que, finalmente, havia de libertar o País do jugo da usurpadora monarquia absolutista.
   
 
 N/A: O cerco do Porto durou aproximadamente um ano, de Julho de 1832 a Agosto de 1833, no qual as tropas liberais de D. Pedro, estiveram sitiadas pelas forças fieis a D. Miguel.
     Depois da morte do Rei D. Pedro IV, que ocorreu no palácio de Queluz em 24 de Setembro de 1834, foi a Imperatriz D. Amélia de Beauharnais por decisão testamentária, que a 5 de Fevereiro de 1835, chegou á barra do Douro com o real legado, que foi transladado para a igreja da Lapa. O cofre com a urna de prata é aberta de 4 em 4 anos por funcionários da câmara, para que se proceda à mudança do líquido da jarra de cristal onde o coração se encontra inserido.Nesta urna de prata, encontram-se gravadas duas inscrições, a primeira em latim e a segunda em português, s qual passo a transcrever:
    “ D. Pedro, Duque de Bragança, fundador da liberdade pública, seu doador e vingador havendo, por impulso da Divindade e com a sua grandeza de alma, aportado às praias do Porto e tendo ali, com o seu exército e pela grande e quase incrível ajuda que lhe prestaram os Portuenses, vingando ao mesmo tempo e com justas armas, a Portugal, tanto do tirano que o oprimia como de toda a sua facção, elegendo o Duque, por isto mesmo e ainda em vida, aquele lugar onde tão magnanimamente expôs a própria vida pela Pátria, para nela depois da morte descansar o seu Coração. Amélia Augusta, amantíssima consorte do Duque, requerendo de boa vontade, cumprir o voto do seu Esposo, colocou reverentemente nesta urna, os despojos mortais do Coração do seu marido.”

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE

 





A RAINHA D. MARIA II 





NA TRAVAGEM
 
      
    O Diário do Governo, do dia 24 de Maio de 1852, na primeira página, publica uma carta do Governador Civil do Porto, Visconde de Podentes, dirigida ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Rodrigo da Fonseca Magalhães, relativamente à visita que a Comitiva Real (Rainha D. Maria II, seu marido com o titulo de Rei D. Fernando II e os príncipes que, mais tarde seriam reis de Portugal, D. Pedro e D. Luís) fez ao norte do Reino, e onde se faz referencia ao almoço que foi oferecido a Suas Majestades, nesta freguesia, no lugar da Travagem.
 
O teor da carta é o seguinte:
 
       «Governo Civil do Porto. Tenho a honra de participar a Vª. Ex.ª., que tendo Suas Majestades e Altezas saído hoje de Santo Tirso ás oito horas da manhã, e tendo-se dignado aceitar um bem servido almoço que tinha feito preparar, e lhes ofereceu na ponte da Travagem a Câmara de Valongo, a sua entrada se verificou nesta cidade pelas duas horas da tarde, dirigindo-se Suas Majestades à Real capela de Nossa Senhora da Lapa, onde assistiram a um solene Te-Deum, preparado e dirigido pela irmandade da mesma capela, no qual celebrou S. Ex.ª o Bispo da diocese (...). Deus guarde a Vª. Ex.ª. Porto 18 de Maio de 1852, ás quatro horas da tarde»
 
 
 
 
S. LOURENÇO DE ASMES PASSA A
DENOMINAR-SE  ERMESINDE
 
     Ainda pelos mesmos autores, podemos ler este documento que passo a transcrever:
 
Diário do Governo, nº 30, de 7 /2/1911
 
     «Attendendo ao que me representou a Junta de Parochia da freguesia de S. Lourenço de Asmes, e Conformando-me com a consulta do Supremo Tribunal Administrativo: Hei por bem determinar, nos termos do Código Administrativo, que a referida freguesia de S. Lourenço de Asmes, do concelho de Vallongo, distrito do Porto, passe a denominar-se freguesia de Ermezinde.
     Paços do Governo da Republica, em 6 de Fevereiro de 1911. O Ministro do Interior, António José de Almeida».
     
As relações entre o Poder Central e a Comissão Administrativa da freguesia eram as melhores. No dia 19 de Junho de 1911, dia em que reunia pela 1ª vez a Assembleia Nacional Constituinte, que reconhecia oficialmente o novo regime republicano, reuniu extraordinariamente também a Junta de Ermesinde que enviou ao Governo o seguinte telegrama, que foi aprovado por aclamação:
 
    «Presidente Governo Provisório Republica. Povo Ermezinde Junta de parochia reunida sessão extraordinária resolve abertura constituinte dá todo o seu apoio obra governo, felicitando e congratulando-se por mais este grande passo consilidação Republica».

A BELA D'ERMESINDE

A BELA D'ERMESINDE





A VILA






ELEVAÇÃO DE  ERMESINDE A VILA
 
 
Ainda fazendo uso da monografia dos mesmos autores, passo a citar:
      
    «Ermesinde foi elevada a vila por decreto publicado no Diário do Governo, de 12 de Julho de 1938, mas há muito que reivindicava esse título e até já o usava antes de ter direito a fazê-lo.
    A primeira vez que a Junta de Freguesia local deliberou solicitar ao Governo a elevação de Ermesinde a Vila, foi na sessão de 11 de Novembro de 1928, quando presidia àquele Corpo Administrativo, Vicente Moutinho de Ascensão. Seria preciso esperar dez anos para que o Governo deferisse o justo pedido. No entanto, a referencia a Ermesinde como Vila começou a ser corrente desde esse ano, tanto na população, como na imprensa regional e nacional.
    Assim, o Eco de Ermesinde, logo na 1ª página da sua edição de 5 de Setembro de 1928, sob o título “A Vila de Ermesinde”, escreve a dada altura o seguinte:
    “Ermesinde — importante centro comercial, industrial e agrícola possue obras grandiosas como sejam o Colégio de Ermesinde, instalado no antigo Convento da Mão Poderosa, mais tarde chamado da Formiga, e que é, sem duvida, alguma coisa de grande, que honra a nossa terra e os seus dirigentes, pelo grande número de alunos que ali vão receber a instrução, alguns vindos de bem longes terras.
   E já que falamos do papel importante que Ermesinde desempenha em prol da instrução, devido ao seu Colégio, devemos frizar que na mesma terra existem 4 escolas do ensino primárioque são insuficientes para o grande número de alunos em idade escolar existentes em Ermesinde.
    Ermesinde possue hoje perto de 6.000 habitantes, fábricas importantes como a Fiação e Tecidos, a Cerâmica de Ermesinde, a Fábrica de Resinagem, a Fábrica Vitória, a Fábrica de Pomadas, de espelhos, de Moagem, de Serração de Madeiras, de Refinação de Açúcar, uma Fábrica de Faianças Artísticas, além de outras de menor importância.
   Tem ainda estabelecimentos importantes de mercearia, de cereais, padarias, talhos, farmácias, serralharias, pichelarias e funilarias, de chá e café, restaurantes, hotel, barbearias, alfaiatarias, um Cine-Teatro, um clube de Sport e Foot-ball, uma Associação de Bombeiros, considerada ultimamente pelo Governo como sendo de Utilidade Pública, estabelecimentos de ferragens e matérias de construção, armadores, estabelecimentos de fazendas, chapelaria, etc.
    Vias de comunicação esplêndidas, pois é servido por Caminho de Ferro, possuindo dentro dos limites da freguesia, a estação de Ermesinde de bifurcação da Linha do Minho e do Douro — e o apeadeiro da Travagem, na Linha do Minho. Está servido igualmente por carro eléctrico linha 9, que vai até ao centro da freguesia, junto à igreja e liga esta localidade com a cidade do Porto.
     Possue estação telégrafo-postal e telefone, tendo 2 cabines públicas, uma na sede dos Bombeiros e outra em casa de Alcino Neto &C.ª L. da.
   Encontra-se bem servido de estradas, embora algumas careçam de reparação. Brevemente vai ser iluminado a luz eléctrica e no lugar da Travagem, junto a Ponte existe a feira-mercado semanal, importante pelas transacções que nela se fazem e que, embora tenha apenas um ano de existência, é de grande valor para esta localidade e para as limítrofes, atendendo a que se encontra muito bem situada.
   Por estas razões é justo que a Ermesinde seja dado o título de vila”.
 
 
    O Governo tardou a fazer justiça a Ermesinde, mas acabou por a elevar a Vila, através do Decreto-lei nº 28.836 (que adiante se publica na integra), reconhecendo que Ermesinde era a única freguesia do Concelho de Valongo de 1ª ordem, e contava com uma população de aproximadamente 6 mil habitantes e a sua sede constituía um centro urbano de importância apreciável e de ininterrupto desenvolvimento, onde a industria e o comercio estava muito desenvolvidos.
      
    Em 1938, Ermesinde era constituída pelos seguintes lugares (por ordem alfabética):
       
        Arroto / Asmes / Boavista / Cancela / Carneiro  
        Costa / Igreja / Ermida / Fojo / Fonte / Formiga
        Gandra / Liceiras / Moinhos / Monte do Seixo
        Outeiro de Ermesinde / Outeiro de Sá
        Outeiro de Presas / Prosela
        Palmilheira (que se chamou Prumilheira)    
        Rapadas / Sá / S. Paio / Travagem
        Vilar / Vilar de cima / Vilar de Matos.
 
 
    Como se vê, o nome Bela não aparece como lugar, creio que faria parte de um deste lugares, talvez: Travagem ou Asmes, como prolongamento dos “Campos de Asmes” na outra margem do rio Leça, seria?
 
       
     Quanto á elevação de Ermesinde a Vila em 1938, aqui vai a transcrição do Diário do Governo:
 
Diário do Governo,
 I Série, dia 12/7/1938 (páginas 1ª e 2ª)
 
      «Ministério do Interior
       Direcção de Administração Politica e Civil
       Decreto-lei nº28:836
    A Junta de Freguesia de Ermezinde, do Concelho de Valongo, solicitou do Governo a elevação da sede daquela circunscrição administrativa à categoria de vila, justificando tal petição com o grande desenvolvimento de que aquela povoação vem beneficiando nos últimos anos.
    Verifica-se, efectivamente, que a freguesia de Ermezinde é a única de 1ª ordem do concelho de Valongo, conta uma população aproximada de 6.000 habitantes e que a sua sede constituinte um centro urbano de importância apreciável e de incessante incremento, onde a indústria e o comércio estão notavelmente desenvolvidos.
    Da situação privilegiada, em relação à nossa rede de caminhos-de-ferro, resulta para a povoação de Ermezinde o constante engrandecimento que se tem verificado e que lhe promete um largo futuro.
  O governo civil do distrito do Porto e Junta de Província do Douro Litoral, ouvidos nos termos do artigo 12º do Código Administrativo, emitiram parecer favorável a esta aspiração daquela freguesia. Pelo que:
     Tendo em vista o que fica dito e o nº 2º do citado artigo 12º.
   Usando da faculdade conferida pela 2ª parte do nº2 do artigo 109º. Da Constituição, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:
     Artigo único. É elevada à categoria de vila a povoação de Ermezinde, sede da freguesia do mesmo nome, do concelho de Valongo, do distrito do Porto.
      Publique-se e cumpra-se como nele se contem.
      Paços do Governo da Republica,
     12 De Julho de 1938.
       
        ANTÓNIO ÓSCAR FRAGOSO CARMONA       
       
        António de Oliveira Salazar
        Mário Pais de Sousa
        Manuel Rodrigues Júnior
        Manuel Ortins de Bettencourt
        Duarte Pacheco
        Francisco José Vieira Machado
        António Faria Carneiro Pacheco
        João Pinto da Costa Leite
        Rafael da Silva Neves Duque». 

 

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE





 

A  CIDADE





ELEVAÇÃO DE ERMESINDE A CIDADE
 
    Em 7 de Abril de 1988 a Comissão politica da CDU de Ermesinde, distribuía um panfleto à população, dando conta do seguinte:
       
    «No passado dia 23 de Março, subscrito pelos deputados do distrito do Porto do PCP — Carlos Costa, António Mota e Ilda Figueiredo, deu entrada na Assembleia da República o projecto de elevação da Vila de Ermesinde a Cidade, que recebeu a designação de projecto 210/88.
    Dos fundamentos desta proposta, citam-se:
   Se razões de ordem histórica podem ser factores determinantes para que as populações sintam um forte anseio de promoção para as suas terras, no caso de Ermesinde, esse anseio assenta, principalmente, em factores de ordem económica e no grande desenvolvimento que a Vila tem tido. Inserida num concelho que é o 6º do Distrito em valores de impostos arrecadados, Ermesinde contribui com mais de 50% para essas receitas. O seu crescimento demográfico só tem paralelo nos Concelhos limítrofes de Lisboa. A sua população passou de 13.000 habitantes em 1970, para os cerca de 45.0000 actuais o que corresponde a mais de metade da população do Concelho. Segundo elementos da “Administração local em números de 1980 do MAI”, Ermesinde era o 15º centro populacional do país. Fazendo parte de um Concelho que é o 8º do Distrito do Porto, em Produto Interno Bruto, Ermesinde contribui substancialmente, para esse valor, dado possuir um diversificado e fluorescente comercio em todos os ramos de actividade e uma forte concentração Industrial, o que levou a Vila a transformar-se, de Vila dormitório a que estava destinada, num centro em que parte significante dos seus habitantes é população activa dentro da Vila.
     Por possuir todas as condições que tornam um grande centro urbano, pelo desejo sentido da sua população que anseia pela promoção da sua terra, quer ainda, porque este ano se comemora o quinquagésimo aniversário da sua elevação a Vila, entendemos ser da maior justiça a elevação de Ermesinde à categoria de cidade.
    Não obstante a celeridade com que o PSD deu a conhecer através dos órgãos da Comunicação Social a apresentação da sua proposta no mesmo sentido, o que apenas reforça a justeza da elevação de Ermesinde a cidade, pretende-se através desta informação tornar claro que, quem tomou a iniciativa nesta matéria foi o PCP, tal como foi declarado em primeira mão, na entrevista dada pela Vereadora da CDU na Câmara de Valongo — Dr.ª. Eduarda Ferreira, ao jornal “Voz de Ermesinde” no passado dia 26 de Março.
    A Comissão da CDU — Ermesinde».
 
 
    Efectivamente só dois anos depois, a 13 de Julho de 1990 este sonho se concretizou, com a aprovação por unanimidade da Assembleia da Republica. No entanto, conforme numa entrevista dada a Manuel Vitorino do Jornal de Noticias, pelo então presidente da Junta — Jorge Videira, no primeiro dia de Ermesinde como cidade, pode-se ler:
 
     «Em conversa com o jornalista JN, o autarca reafirma a tese que a lei de criação de novas municípios está desajustada da realidade e que existe «uma lacuna por parte do legislador».
     O representante das populações está de acordo com a elevação de Ermesinde a cidade, mas pensa que esta decisão só servirá os interesses dos que habitam se for sede de concelho. «Porque se não — diz — é uma cidade que apenas depende de outra cidade, que é Valongo. O que urge corrigir neste processo, é a lei que permite a criação de novos municípios».
     É pôr o “dedo” numa ferida que há muito deveria ter sido cicatrizada, mas que até ao momento ainda não foi. «Se não acontecer a criação de um município em Ermesinde, esta deliberação não passa de um mero título honorífico, uma vês que continuamos a ser tratados como uma qualquer freguesia, a receber as dotações orçamentais que a Lei das Finanças Locais consagra». Resumindo: se a lei que determina a criação da passagem de vila a cidade, não tiver aplicabilidade em termos orçamentais, a AR poderá, «mais tarde ou mais cedo, corrigir a situação» — salientou Jorge Videira.»
 
 Enquanto isto... Para Valongo a visão era bem diferente:
 
    «A elevação de Ermesinde e Valongo à categoria de cidades é, antes de mais, uma honra justamente conferida a um concelho que, no seu processo de desenvolvimento no progresso que transforma a sua face, tem vindo a alcançar um lugar cada vez mais importante no contexto da área em que se insere, é com alegria que recebo esta noticia — e felicito por ela todos e cada um dos munícipes do Concelho de Valongo, em especial os que vivem nas duas novas cidades» — assim se pronunciou João Moreira Dias, Presidente da Câmara Municipal de Valongo.»  
       
 
 
POPULAÇÃO DE ERMESINDE  EM 1911

Lugares

  Fogos                          

                                               Habitantes

 

Arregadas

24

  122

Ermesinde

26

  113

Cancela

55

  269

Costa

31

  129

Ermida

42

  164

Estação

40

  200

Formiga

4

    46

Gandra

17

    81

Igreja

23

    98

Liceiras

14

    59

Outeiro de Sá

16

    64

Palmilheira

47

  200

Passal

13

    55

Porto-Carreiro

12

    70

Quinta da Formiga

3

    29

Rapadas

46

  185

75

  371

S. Paio

63

  361

Souto

16

    70

Souto dos Moinhos

22

    77

Travagem

22

    96

Vilar

135

  565

Vilar de Matos

14

    78

Total

760

3.502

 
Também aqui, a Bela ainda não aparece como lugar e mesmo alguns nomes, de antigos lugares, são integrados noutros. Mas... Onde anda a Bela?
 
 
 
 
POPULAÇÃO DE ERMESINDE de 1700 a 1996

          

ANO

 

HABITANTES

1700

120

1850

1000

1857

1100

1864

1398

1875

1200

1900

2698

1911

3502

1920

4440

1928

6000

1960

12000

1981

45000

1996

50950

 

 

LUGAR EM 1996

H

HABITANTES

Centro

8249

Gandra

6537

Costa/Sá

6304

Palmilheira

5397

Saibreiras

4365

Sonhos/ Soutinho

3972

Bela

3894

Cancela

2947

Travagem

2673

Formiga

2413

S. Paio

2213

Montes da Costa

1986

Total

50950

 

 

 

 
Finalmente a Bela aparece como Lugar!!!