quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE

 


 


DE ASMES A ALFENA
COM JACINTO SOARES



 
 
      
   No site do jornal “A Voz de Ermesinde”, postado por Álvaro Mendonça, encontrei para juntar a esta minha compilação de documentos sobre a Bela e Ermesinde, uma reportagem esplêndida e muito curiosa, sobre um dos muitos passeios culturais, que Jacinto Soares deu com seu caminhantes por estas terras e que passo a descrever o mais importante para este escrito (ressalvando as frases a “times” que são de minha responsabilidade):
       
    «Partindo como é habitual, do Fórum Cultural de Ermesinde, os caminhantes começaram por se dirigir, pela chamada “quelha do cemitério” (actual Travessa Cinco de Outubro), à zona do Passal que pertenceu à Igreja e onde, em tempos não muito distantes, funcionou a (GNR) e depois a Junta de Freguesia de Ermesinde, numa casa de sóbria traça, actualmente sem serventia (que tal a biblioteca de Ermesinde?). Dali vislumbra-se ainda o Colégio de Santa Justa que continua, desde a década de quarenta, do século passado, a exercer a sua prestimosa acção social e educativa no mesmo edifício que pertenceu à família Sá da Bandeira e que, a exemplo de numerosas famílias da burguesia, se instalou em Ermesinde (como é o caso daquele palacete maravilhoso junto à linha), considerada à época como a Sintra do Norte e onde existia um rico património arquitectónico que aos poucos, foi lamentavelmente desaparecendo. Isso mesmo recordou Jacinto Soares que dezenas de metros mais adiante, e já no lugar do Calvário, chamou à atenção para a existência de um campo de cultivo (junto à passagem de nível, na rua que vai para a Ponte pedonal ou Ponte verde como lhe chamam), que em tempos foi parque de jogos de basquetebol e andebol. Era o antigo Campo do Calvário no qual o CPN (antigo GPN – Grupo de Propaganda de Natação) realizava os seus jogos. Um pouco mais abaixo, o rio Leça servia de piscina natural aos atletas desta colectividade.             
    Atravessada a passagem pedonal sobre o tão decantado, como poluído Leça, e após uma pausa frente à Escola da Bela, que deve a sua criação a Alberto Dias Taborda e ao apoio da família Oliveira Pinto (Esta escola começou a ser construída em 20 de Maio de 1935, mas só 6 anos depois foi concluída, iniciando o seu 1º ano lectivo em 1941/42).
    (...) A Bela é hoje uma zona urbana com características modernas e muito atractivas e ainda com algumas zonas verdes remanescentes dos extensos pinheirais (e eucaliptos que deixavam um cheiro bom no ar) que ali existiram e onde, por volta dos anos 40 e 50, abundavam os poços negros, assim chamados devido ao carvão armazenado em cubatas com armações de lenha e caruma, como realçou Jacinto Soares.
     Era o conhecido carvão de choça que depois de transportado para a Feira do Carvão situada na Rua de Liceiras, no Porto, ali era vendido.    
    Curiosamente o nome Liceiras, como fez questão de sublinhar o professor, é uma corruptela de leceiras (palavra originária de Leça) e não do liço (derivado de linho) como defendem alguns investigadores.
     Segundo Jacinto Soares, a Bela pertencia à faixa carbónica que se estendia de Castelo de Paiva até à Póvoa de Varzim, passando pelo Pejão, S. Pedro da Cova, Alto da Serra de Valongo, no antigo lugar da Ribeira, onde existiam duas minas de carvão e seguia por Folgosa. Nesta faixa carbónica abriram-se durante muitos anos, e a partir do século XIX, poços para prospecção de carvão. Um deles, que permaneceu aberto, situava-se no monte da Bela e por isso ficaria a chamar-se Poço da Bela.
    Essas aberturas eram popularmente conhecidas por poços negros e foi para perpetuar a ligação do povo à história, que Jacinto Soares, num período em que foi vereador da Câmara de Valongo, propôs o topónimo Poço Negro para a rua ali existente. 
     Mas onde se explorava mais carvão, como recordou aquele estudioso, era no lugar da Ribeira (Formiga) e em Baguim. Tratava-se afinal de um carvão pobre que depois de misturado com água e seco nas eiras, dava lugar a um bolo vulgarmente conhecido por “sarrisca” muito usado nos fogões de barro utilizados pelos lavradores quando cozinhavam aos domingos.
     Curiosa é também a ligação ao teatro das populações da Bela como relatou o Prof., ao lembrar que ali existiu entre os anos 40 e 50, uma das maiores associações de teatro que realizava as suas actuações num recinto ao ar livre. Foi tempo dos “Patriotas de Vilar”, que aqui se evocam.
     (Sobre o tema teatro, aproveito para lembrar que muitos moradores do lugar da Bela e Monforte, com: José Afonso, Carlos Silva, Carolina Gonçalves e outros, foram protagonistas de uma peça, [que veio a ser censurada pela PIDE] ensaiada por Leopoldino Serrão e exibida nos Bombeiros).
     (...) Finalmente, no aprazível Parque de Lazer de S. Lázaro, onde se integra o Núcleo Histórico Central de Alfena, Jacinto Soares foi enumerando os elementos que constituem este núcleo, do qual sobressai uma ponte românica, classificada em 1967, como monumento concelhio.
     (...) Os monógrafos de Alfena, como explicou o Prof., referem que neste local existiam duas capelas; uma situada à entrada da ponte do lado que procede do Porto, era a capela da ponte ou da Senhora dos Remédios e a outra, à sida. A primeira desapareceu e a segunda, situada na parte Norte da ponte ainda lá se encontra, apesar de algumas transformações. É a capela de S. Lázaro, datada de 1623, vestígio mais visível da antiga gafaria de Alfena.
     (...) O documento mais antigo, que se conhece data de 1214, pertence ao Arquivo Distrital de Braga e nele, D. Stefanina (Esteuainha) fala dos “Leprosos de Alfena et le Leprosis Portugal”. De facto neste local de peregrinação a S. Lázaro, cujo o culto esteve sempre associado àqueles doentes, existiu uma gafaria (hospital para leprosos) e por isso Alfena beneficiava de privilégios concedidos pelo rei, razão pela qual Alfena era escolhida pelas populações para ali viverem e construírem as suas casas devido à isenção de pagamento de tributos ao rei.»

Sem comentários:

Enviar um comentário