quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE


 

 



ESPAÇO GEOGRÁFICO




A BELA
 
      
    Durante muitos anos, o lugar da Bela esteve isolado da restante freguesia de Ermesinde, principalmente a partir de 20 de Maio de 1874 (dia da inauguração da Linha do Minho), com a construção da ponte sobre o Leça e do pontilhão (em 1873) que dava acesso à única via de entrada nesse agregado populacional.
    Tendo o rio Leça a Sul e a Linha do Minho a poente, restava tanto a norte como a nascente uma vasta região de bouças, onde pontificavam imensos eucaliptos e pinheiros por onde a população ia desbravando caminhos, para ter acesso à Boavista, Folgosa, Alto de Vilar e Alfena.
    Para acesso à sede da Freguesia, apenas duas milenares e estreitas pontes de pedra, davam passagem ainda que precária, quando não ficavam submersas no inverno em dias de grandes cheias, como aconteceu muitas vezes. Como as maiores que aconteceram em 1909, 1959, 1962, 1972 e as mais recentes no dia de Natal de 1995 e a de 6 de Dezembro do 2000. De resto, a população vivia isolada apenas com acesso à Travagem pelo pontilhão. E foi assim nessa “ilha”, que a população da Bela viveu mais de um século até à década de 90 no século XX. Com o aumento da população a rondar os 2.500 habitantes em 1974, as ruas que existiam na Bela ainda eram em terra, o que provocava grande poeira no verão com automóveis a passar e o desconforto da lama no inverno. Só no ano de 1976, alguns homens decididos do lugar, emanados do espírito que a revolução de Abril acendeu, pegaram em ombros a tarefa de organizar um peditório pelo lugar, com o intento de calcetarem as ruas. Com a ajuda da Junta de Freguesia (descapitalizada na época), que mesmo assim, ainda disponibilizou operários e a logística necessária ás obras. 

 
 
A TRAVAGEM     
        
 
     O lugar da Travagem foi sempre mais desenvolvido (até mais que o centro de Ermesinde), devido a estrada de grande movimento entre o Porto e Guimarães, passando a gozar de grande prestígio, desde a construção da ponte de três arcos sobre o rio Leça, inaugurada em 1845 (e remodelada em 1990). Na Travagem nasceu quase tudo de importante que Ermesinde tem.
     Na década de 60, com a chegada do 1º Troleicarro a 17 de Novembro de 1968 e depois os Autocarros em Abril de 1995, era o local mais perto onde a população da Bela tinha acesso aos transportes públicos. Embora o apeadeiro da Travagem fosse há muitos anos, um ponto de partida e chegada de muitos trabalhadores na cidade do Porto e arredores. 
     Este lugar gozava do prestígio que lhe vinha desde o século XIX, com o privilégio de ter um hotel (o edifício ainda existe encostado à padaria Lino), quando o Leça era uma atracção turística de grande procura e nas suas águas se davam belos passeios de barco, ou se merendava nas aprazíveis margens.
    Nesse tempo em que a Fonte da Feira, em que se lê na pedra gravado: “AGOA SEMPOSSE - 1858” “Propriedade da Casa Lino”, ainda se bebia boa e fresca água.
     Foi ainda no Hotel Sobral na Travagem, que no dia 1 de Junho de 1921, foi fundada essa prestimosa instituição que são os Bombeiros Voluntários de Ermesinde.
     Com a construção da Feira de Ermesinde, inaugurada numa segunda-feira a 12 de Setembro de 1927, a par do fabrico da famosa “regueifa” da prestigiosa “Padaria Lino”, assegurado pela moagem continua dos moinhos ali perto, a Travagem ganhou outro incremento comercial. 
     Quanto à indústria, a Travagem orgulhava-se de possuir uma das maiores empresas transformadoras de materiais resinosos, a “Resineira” fundada em 1901. (demolida em 2006, embora hoje, ainda se possam ver as casas dos empregados com seus tons de verde).
    Outra das grandes indústrias na Travagem, é a fábrica de metalomecânica fundada em 1936, a “Felino”, fábrica ainda existente, embora a maior parte das suas instalações se mudassem para outro local do concelho.
     Mesmo na vertente desportiva, a Travagem pode-se orgulhar de ser ali, que o Ermesinde Sport Clube foi fundado, a 10 de Agosto de 1936. Assim como a Académica da Travagem nos anos 60, como à frente pode ler mais em pormenor.
     O Café Record inaugurado em 1965 foi ponto de encontro de muitas gerações. Teve grande movimento no período revolucionário quando ali se juntava a malta de esquerda do lugar.
    O tempo passou, o rio poluiu-se, as zonas de veraneio acabaram e surgiram a par do progresso, os grandes edifícios como a Churrasqueira da Travagem, inaugurada a 14 de Janeiro de 1969.
     A Linha do Minho alargou-se para via dupla em 1996, quando terminou a passagem “proibida”, para quem vinha da Bela e atravessava a linha. Foi construída uma passagem desnivelada e à fábrica “Felino” foi tirada uma boa fatia de terreno.
     Na ponte do caminho-de-ferro sobre o Leça (com 123 anos), também foi feita uma elegante obra de engenharia que não arruinou o seu traçado original. Ainda se procedeu simultaneamente na mesma data, ao alargamento do Pontilhão, única entrada da Bela até àquela época.

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