quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE




 

O LUGAR DA BELA




 
 
BELA OU VELA?
        
    O Nome da Bela (ou Vela), supõe-se já existir no século XIII. No entanto, depois de ler algumas monografias sobre Ermesinde, poucas alusões encontrei a este lugar.
    Porém, depois de exaustiva procura, pude encontrá-lo aquando da criação da Freguesia de Alfena, como escreveram na sua maravilhosa monografia sobre Alfena, os padres Domingos A. Moreira e Nuno António Maria Cardoso em: “Alfena a Terra e o seu Povo” de 9 de Abril de 1973.
    Assim, e respeitando a sua ortografia passo a transcrever passagens onde o nome da Bela se encontra citado e penso ser possível demonstrar a sua existência, ainda que delével. Passo a citar:
   
   «Nas inquirições de 1258 Alfena confinava com Ferraria e Tresleça. Nos finais do século XVI escrevia-se: «no resio da Codes.ª [=Codesseira] saindo dalfena» (I livro do Registo Paroquial folha 4 verso, no Arquivo Distrital do Porto). Por cerca dos meados do século XV escrevia-se: «na ferraria da par dalfena [...] freiguesia de São Vicente dalfena» (Arquivo Distrital do Porto, Convento da Ave Maria, livro nº. 243 (153) folhas 332 verso)»
       
    «S. Vicente de Alfena (que nos tempos mais antigos se chamou S. Vicente da Queimadela) pertenceu tradicionalmente, ou seja, durante a Monarquia Absoluta, ao Concelho da Maia. Mas criado o Concelho de Valongo no tempo do Liberalismo por decreto de 28 de Novembro de 1836 (e sua vila por decreto de 17 de Abril de 1837), Alfena passou a pertencer-lhe, como diz o padre Joaquim Alves Lopes Reis, no seu livro A Vila de Valongo” (Porto 1904, nas páginas 195-196) que mais adiante, na página 202 informa:
    «O Povo de Valongo, porém, é que não estava acostumado a estes impostos (tinham posto em arrematação uns certos direitos lançados sobre a carne, vinho, azeite, etc....) que o antigo regímen nunca se atreveu a lançar senão em casos excepcionais e justos. Julgando-se tratar de um tratantada e no auge da sua fúria, apareceu no dia destinado para a arrematação de tais impostos (18-4-1838), uma grande multidão e à força, já que razões não bastavam, obrigaram os camaristas a fugir, cobrindo-os de injurias e insultos os quais chegariam a vias de facto, se a prudência não tivesse aconselhado que eles a tempo se pusessem a salvo. Recolheram-se a Alfena, diz-se, por ser daquela freguesia o administrador de então e aí, celebraram várias sessões no lugar, na quinta de uma tal D. Helena, na primeira das quais deliberaram representar ao Exmo. Administrador geral a respeito dos insultos feitos à Câmara por parte dos habitantes de Valongo e na sessão se 18 de Junho, chamam vila a Alfena». 
       
    Em 1867 é extinto o concelho de Valongo, passando Alfena para o então criado concelho de Rio Tinto que durou apenas 8 dias. Valongo triunfa de novo e Alfena voltou a pertencer-lhe até hoje. (Padre Joaquim Alves Lopes Reis, ob. Citada página 216).
    Os limites da freguesia de Alfena acham-se escritos no:
     
    «Tombo da Igreja de Sam Vicente/ D Alfena / Unida in perpetuum por Bullas / Appostolicas / Ao Collegio de Nossa Senhora da / Conceição / De Carmelitas Calçadas da / Vniuersidade de Coimbra / Feito por Provisão de S. Magestade / Pello Doutor Chistouão Alão de Moraes / Sendo Reitor / Do dito Collegio / O p. M. Frei Roque de S. Thereza / No Anno / De M D C e LXXXIX» (1689).
 
    Tombo este, guardado no Arquivo da Universidade de Coimbra e do qual se fazem aqui várias citações.
       Assim, a divisão da Freguesia de Alfena com a de Ermesinde, efectuou-se a 25 de Junho de 1689 e aqui se descreve, respeitando a sua ortografia, tendo em conta que em muitas palavras o (u) lia-se como (v), exemplo da palavra “uela”, que se deve ler vela.
     
     «os d.os louuados  comesaram de medir do outro marco atrás da Comenda de Augas santas pela deuizam de emtre as frg.as de Alfena e sam Lourensso p.ª a parte do sul  the a serra de Vilar adomde elles louuados disseram era nesessr.º leuantar hum marco o coal elle juis mandou leuantar em o sima da serra e fiqua augas uertentes p.ª huma p.te e p.ª a outra e lhe mandou pelo porteiro dar hum pregam que com pena de coatro annos de degredo e cem mil rreis p.ª as despezas nimguem aranquáce o d.º marco nem emtendêce com  e fica de distancia do outro atrás the este duzentas e oito uaras.
      E na mesma forma foram elles louuados medimdo a distancia pela deuisam de emtre as freiguezias dir.to p.ª o sul the o outr.º da uela de sam Lourensso a ahi se lhe fés huma crus no penedo da d.º uela e fiqua de distancia do outro marco a este cento e sete uaras e mª.»
      E logo elles louuados medimdo pela deuisam de emtre as freiguezias direjto ao outejro da pedra talhada na direjtura do sul e disseram elles louuados era nesessario outro marco e que elle juis mandou leuantar e darpregám na forma dos mais atrás e fiqua de distancia do outro em que fiqua a Crus the duzentas setenta e sete uaras.»
      
Eis a tradução para melhor compreensão:
 
    «Os ditos louvados (peritos nomeados para avaliar) começaram a medir do outro marco da Comenda (Terras de beneficio, concedidas com renda anexa a eclesiásticos e cavaleiros) de Águas Santas pela divisão entre as freguesias de Alfena e São Lourenço, para a parte sul da serra de Vilar a onde eles os louvados, disseram que era necessário levantar um marco, o qual o juiz mandou levantar em cima da serra e ficou com águas vertentes para uma parte e para outra e mandou o porteiro (espécie de oficial de justiça), apregoar com pena de quatro anos de degredo e cem mil reis para despesas, ninguém arrancasse o dito marco, nem que estivesse em desacordo. Ele (o marco) fica à distância do outro atrás deste, duzentas e oito varas
    E da mesma forma, foram eles os louvados, medindo a distância pela divisão das freguesias, direito para sul do outeiro da vela de São Lourenço e aí se fez uma cruz no penedo da dita vela e fica à distancia do outro marco a este, cento e sete varas e meia.
    E logo os louvados foram medindo pela divisão as freguesias, directo ao outeiro da pedra talhada na direcção do sul e disseram os louvados que era necessário outro marco o que o juiz mandou levantar e dar pregão na forma dos mais atrás e fica de distância do outro em que fica a Cruz deste, duzentas e setenta e sete varas. (antiga medida de comprimento equivalente a onze decímetros [1metro e 10 centímetros])».
 
    Logo em 28 de Junho de 1689, não tendo querido aparecer a abadessa do convento de S. Bento do Porto, efectuava-se a divisão dos limites de Alfena com Valongo.
       
Que passo a transcrever:
        
   «...E logo elles louuados na mesma forma atrás foram medindo pela deuisam de entre as freiguesias direito p.a o nascente sempre augas vertentes athe o alto da serra da bella junto adomde se pome a uela e ahi disseram elles louuados era nesesario leuantar outro marco o coal elle juis do Tombo mandou leuantar e lansar pregam na forma dos mais e fiqua de distancia do outro a este seis sentas e seis uaras.
    E logo elles louuados foram medindo na mesma forma atrás pela diuizam de entre freiguezias athe domde chamão a eira de ségu junto à estrada e ahi disseram os louuados era nesesario outro marco o coal elle juis do Tombo mandou leuantar...»
 
Eis a tradução:
 
   «E logo os louvados na mesma forma atrás, foram medindo pela divisão de entre Freguesias, direito para a nascente (que suponho ser aquela a que chamam “Reguinho” e que se encontra por trás da sede da U.D.C.R. da Bela e depois totalmente encanado, desagua no Leça junto à “Fonte dos Amores), sempre de águas vertentes até ao alto (que penso ser a Rua do Bom Samaritano) da serra da Bela, junto aonde se põe a vela (acto de velarvigilância, sentinela) e ali disseram eles os louvados que era necessário levantar outro marco o qual ele o juiz do Tombo mandou levantar e lançar pregão da mesma forma das mais atrás e ficou à distancia do outro a este de seiscentas e seis varas.
    E logo os louvados foram medindo da mesma forma atrás, pela divisão entre freguesias, até onde chamam a eira do cego (lugar antigo onde viviam alguns cegos e pedintes), junto à estrada e aí disseram os louvados, era necessário outro marco, o qual ele o juiz do Tombo, mandou levantar e lançar pelo porteiro pregão da forma dos mais atrás e fica à distancia do outro marco a este de trezentas e quinze varas».
 
    Ainda citando os mesmos autores, pode-se ler na página 24 da mesma monografia o seguinte:
 
    «Ainda no mesmo Tombo aparecem citados o outeiro “da uela” (f.37 na estrema com Ermesinde e a “serra da bella” (f.38 v) na estrema com Valongo: trata-se de postos nomeadamente medievais destinados a vigiar (velar) como se vê das expressões da época como:
   “Coto de vigia” em 1258 “villa por ser bem gardada, vellada [...] uellar roldar a dita cerqua” em 1372. “seiam escusados de vela e de finta e de talha” em 1322. “enviassem certos homens cada semana a velar ao monte de S. Gens” no século XV e “maneira que asy hade teer  em vellar de noute foguo e de dia fumaças”.Todos estes elementos, de valor histórico desigual quanto à importância do conteúdo e à época a que se reportam, não deixam de fornecer indícios cronológicos de interesse.»
        
     Ora como se pode ler, “uela ou uellar”, significa: Vela ou Velar.
     E “vellar de noute foguo e dia fumaças” quererá dizer: Velar de noite fogo e de dia fumaça”.
     Pode-se entender que eram postos de vigia, onde se vigiava o fogo nos montes para que não ardessem.
     Então será que este lugar a que chamamos “Bela” seria ”Vela” que depois se aglutinou?
     E que serra da Bella será aquela que fica no estremo de Valongo?
     Ficam as perguntas para quem souber, que o meu saber é pouco.

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