A BELA D'ERMESINDE
A BELA D'ERMESINDE
O RIO LEÇA
SERÁ O RIO LEÇA O HISTÓRICO “LETHES”?
Segundo a lenda do Rio Lima, os soldados romanos tinham medo de o atravessar, assim, Tito Lívio lhe chamou o “Rio de Esquecimento”. Identificando-o como o “Lethes” da mitologia, que tinha o condão de provocar em todos os que o transpusessem o olvido do passado e da própria pátria.
Porém, alguns autores latinos referem-no como estando ligado a uma ardilosa forma de os habitantes desta região (Ponte de Lima), intimidarem os soldados romanos comandados por Décimo Junus Brutus, impedindo-os, pela superstição, de atravessarem o Lethes, sob pena de nunca mais regressarem, já que se esqueceriam de tudo.Na verdade, segundo a mitologia grega, Lethes era o rio que corria no inferno e cujas águas tinham a particularidade de provocar o esquecimento, pelo que os condenados bebiam delas, a fim de esquecer o passado e o sofrimento em que viviam.
Alguns autores, ao falarem do Leça como sendo o Lethes, referiam-se ao conceito de beleza que tinham as suas margens, dizendo, que quem o transpusesse e ao penetrar na luxuriante beleza das suas margens, não mais voltaria e se esqueceria de tudo. Toda essa beleza infelizmente hoje inexistente, deu aso até a lendas como a da Bela, a conhecida “Lenda da Cobra Moura”, que adiante falarei.
Essa “Cobra” pode ser vista como ícone, inteligentemente aproveitado, para encimar o emblema do grupo do lugar a União Desportiva, Cultural e Recreativa da Bela. Mas vamos ao Lethes, pela mão de Humberto Beça, na sua maravilhosa monografia sobre Ermesinde:
«Ora espraiando-se em pequenos vales que atravessa preguiçosamente, como nos campos de Alfena e Ermesinde, ora apertando-se entre penedos em rápidos declives do terreno, como Ardegães, o Leça é na verdade um formosíssimo rio, justamente concorrendo para a beleza deste arrabalde do Porto que é a freguesia de Ermesinde.
A designação do rio, o seu nome, é que também tem origem desconhecida, na sua etimologia e modificações.
Querem certos autores que o Leça seja o formoso Lethes dos tempos históricos, o terrível rio do esquecimento, que as hostes romanas não queriam atravessar, receosas de esquecerem a sua pátria, tão estranhamente bela era a paisagem paradisíaca que o rio banhava.
Querem outros, que, provado que o Lethes era o Lima, fosse este o “Celano”, e entre estes, André de Rezende, nas suas “Antiguidades de Portugal” chama ao Leça, o “Celano”.
Parece provado o erro de Rezende, que se guiou, na sua discrição da província de Entre Minho e Douro, por Pomponio Mela que omitiu o rio Leça na sua “De Situ Orbis”, certamente por se tratar de um rio pequeno e sem grande importância geográfica.
Manuel Pereira de Novais diz que o nome de Leça deve ser derivado de Elysa, filho de Javan, neto de Japheth e bisneto de Noé, que o mesmo Novais crê que tenha vindo estabelecer os seus arraias nas terras do ocidente. De Elysa, se passaria a Lysa e de Lysa a Leça.
Diz ainda Novais que Pedro Mariz na sua crónica de S. João de Sahagum, chama ao rio Leça “Ltitia” de “Laetus”, alegre; isto é, rio da alegria, pelo pitoresco das suas margens e alegres paisagens.
Parece, porem, que de facto o Leça foi conhecido por Lethes, ou Letes, durante o domínio dos godos e ainda árabes; mas o padre Contador de Argote, consigna também que Letes era derivado de Laetus, alegre e não de Lethes, esquecimento.
Há ainda quem adusa uma outra origem para o nome do nosso formoso riozinho:
Parece que quando se instituiu em Portugal a ordem de S. João de Jerusalém, em 1112 que tem como primeira cabeça o convento de S. Salvador (Leça do Balio, hoje) vieram entre os freires estrangeiros, alguns franceses que por serem naturais das Ardenas onde há um rio chamado Le Lesse, estes, talvez pela semelhança da paisagem regional, dessem ao nosso rio o nome de rio francês, o Lesse, que se modificaria para Leça, com o decorrer do tempo, o que todos ou quase todos os escritores, geógrafos e historiadores que a ele se tem referido em suas obras e todos afinam o diapasão das suas frases laudatórias pela mais alta escala da gama dos elogios».
O LEÇA E A ESCOLA DE MATOSINHOS EM 1983
Com o título: “Por este rio abaixo”, a turma Z do 1º ano da Escola Preparatória de Matosinhos, apresentou em 1983 um trabalho nas disciplinas de português e educação visual. Desse trabalho que aqui transcrevo na íntegra, pode-se ver o que era o rio Leça de outros tempos:
«Era o ano de 1900, começava o verão, faziam-se preparativos para o nosso passeio anual.
O barco aguardava-nos com os seus toldos coloridos. O que lhe dava um ar festivo.
O rio corria sereno e nas suas águas cristalinas reflectia-se a vegetação característica das margens. Por entre a verdura ressaltavam lírios amarelos e roxos e fetos admiráveis.
O barco deslizava lentamente. Uma ligeira aragem trazia-nos o perfume das flores campestres. Ao longe avistava-se um moinho que aproveitava a corrente do rio para moer o cereal. À medida que nos aproximamos, sentíamos p cheirinho a pão fresco. Logo nos apeteceu provar o tradicional pão que ali se fabricava. Na outra margem um homem pescava. No rio Leça abundavam peixes de várias espécies.
Mais abaixo ouvia-se o cantar das lavadeiras que alegremente tratavam das roupas. Alguns lavradores abrindo regos, conduziam límpidas águas para os campos de milho já quase maduro, enquanto vários garotos chapinavam ruidosamente junto à margem.Vozes de crianças que brincavam anunciavam-nos a proximidade da praia fluvial. Já se viam as barracas listadas onde as senhoras, elegantemente vestidas, se protegiam do calor. Cavalheiros com os seus fatos de banho ás riscas, gozavam o Sol ou a frescura da água.
Desembarcávamos. Na areia fina e quente pousávamos os merendeiros. Depois desta maravilhosa viagem, apetecia-nos saborear os petiscos que trazíamos. E o piquenique começou. Deliciávamo-nos com a merenda, quando surgiu um fotógrafo, carregando a sua aparatosa máquina. Propôs-nos uma recordação agradável. Fez-se, então, a fotografia para a posteridade.
E como estava lindo o rio Leça! E hoje, em 1983, reconhecem este local?
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