quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A BELA D'ERMESINDE

 

A BELA D'ERMESINDE





O LEÇA






O RIO LEÇA POR: JACINTO SOARES
 
       
    Extraído pelo professor Jacinto Soares, de uma revista que se publicava na Maia em meados do século XIX, este texto foi publicado em “A Voz de Ermesinde” a 20 de Dezembro de 1991.
    Para salvaguardar a sua autenticidade, transcrevo aqui algumas passagens de maior interesse, respeitando a sua ortografia:
 
    «Nasce na freguezia do Monte Córdova, no logar das Lameiras chamadas do Redundo. Corre manso e sereno de nordeste a oeste; e sepulta-se no oceano atlântico, entre Mattosinhos e Leça da Palmeira, vinte e cinco kilometros desde a sua origem.
     Alguns auctores, entre os quaes o auctor do Mappa de Portugal, escreveram que o rio Leça tem de curso doze léguas; a verdade é o que deixamos apontado.
     Até o anno de 1483 era navegável este rio até á ponte de Guifões. Três kilometros acima da sua foz; porém depois, por causa das azenhas que se fizeram junto a Mattosinhos, tornou-se impossível tal navegação que só era para bateis ou barcos pequenos.
     Sobre a etymologia do nome Leça, há varias opiniões, concordando todos os escriptores em que é derivado de Lethes.
     No tempo dos godos se lhe dava o nome de Lera, que parece ser palavra phenicia.
     Outros dizem que no tempo dos árabes se denominava este rio Lethes ou Letes; mas, segundo Argote, não é derivado de Lethes (esquecimento) mas de lactus (alegre) por causa de suas margens aprazíveis. (...)
     (...) António do Carmo Velho de Barbosa, abbade de Leça do Balio, na sua Memoria Histórica de Leça, impressa em 1852, segue ainda outra opinião, derivando o nome Leça do grego Léssa, que significa Levis isto é (diz elle) cousa de pouca importância, pobre; e assim pretende que se daria tal nome a este rio, como dizendo — rio de pouca agua.
    Pode ser assim, mas julgamos mais provável que se derive, Leça de Lethes.
    As freguezias mais notáveis que fertilisa, são as seguintes: Monte Córdova, Reguenga, Agrella, S. Julião de Agua Longa, Alfena, S. Lourenço de Asmes, Aguas Santas, Milheirós, Gueifães, Leça do Balio, Barreiros, Moreira, Costoias, Santa Cruz do Bispo, Guifões, Mattosinhos e Leça de Palmeira.
    Percorre no seu trajecto grande parte do concelho da Maia; mas também banha algumas freguezias dos concelhos de Santo Thyrso, Vallongo e Bouças.
    Há n’este rio varias pontes de pedra, sendo mais notáveis as seguintes: Ponte da Pedra, em Leça do Balio, antiquíssima, e que data pelo menos do tempo dos romanos; a da Travagem, em S. Lourenço de Asmes, formada sobre três arcos, e construída em 1845; a de Guifães, na freguezia do mesmo nome, antiquíssima, e que se presume ser do tempo dos celtas; a de Mattosinhos, formada sobre dezenove arcos; e a de Moreira. Tem outras muitas pontes de pequena importância.
    (...) As suas aguas são muito claras e crystalinas, sendo por isso muito celebrado na lyra de Sá de Miranda e Manuel de Faria e Sousa que cantaram a amenidade das suas margens.
    Padre João Vieira Neves Castro da Cruz».
 
    A foto (Ponte da Travagem e zona envolvente) que acompanha este artigo no Jornal “A Voz de Ermesinde” trata-se de documento da mesma altura (1899), que está ligada a um facto histórico triste que tanto sofrimento trouxe à Cidade do Porto e a esta terra. A foto foi registada, aquando da instalação do chamado “Cordão Sanitário” que tinha por objectivo isolar a terrível epidemia da peste bubónica que, então, lavrava na Cidade do Invicta.
    Vê-se na foto, uma” barraca de desinfecção” e uma guarita na ponte, onde se portavam as autoridades que tinham por missão obrigar as pessoas a submeterem-se ás normas vigentes numa situação de calamidade deste género.
    Mesmo com esses cuidados, sabemos que alguns habitantes desta terra, que habitavam a parte alta desta zona (Bela), perto do local, onde cinquenta anos depois se iria construir a escola primária, foram atingidas por esse mal. 
    Já agora adianta Jacinto Soares, há aspectos curiosos, alguns mesmo de carácter etnológico, relacionado com estas famílias que se dedicavam ao arranque de pinhas, para posteriormente serem vendidas na cidade, que deviam ser objecto de estudo monográfico.
    Por último, e a titulo de curiosidade histórica, Jacinto Soares acrescenta: Que esta terrível epidemia, que se manifestou no Porto, em 1899, cujo bacilo se suspeita ter sido importado de Bombaim, deu origem a 320 casos de doença confirmados, sendo 112 mortais. Ricardo Jorge verificou a presença de bacilos de Yersin em ratos vivos, em casas dos doentes.
    Segundo documentos da época., os comerciantes das áreas afectadas, contestavam mais as consequências económicas do “Cordão Sanitário” do que temiam os efeitos da doença.

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