LENDA DA BELA
“A COBRA MOURA”
(OUTRA
VERSÃO)
«Conta a lenda, que num tempo muito distante
em que os sarracenos por cá andaram, vindos da região de Leão fugidos à
reconquista cristã, uma lindíssima moura a que chamavam “A Bela”, cuja beleza
enchia de inveja as mulheres do lugar, dando azo a desavenças sucessivas entre
o povo, foi condenada à expulsão pela sua tribo, depois de ser transformada em
serpente por uma bruxa de grandes poderes. Por essa altura noutro lugar, havia
um pastor de ovelhas, um formoso rapaz, que todos os dias trazia o seu rebanho
a pastar próximo à margem do rio Leça, sempre acompanhado do seu cão, que
embora pequeno, impunha respeito às ovelhas enquanto o pastor dormia a sua
sesta, à sombra de um frondoso eucalipto que ali existia, mesmo ao lado de um
riacho de água cristalina, que servia de fonte às pessoas do lugar. Todas as
tardes enquanto dormia, o pastor sonhava com uma bela mulher que o acordasse
num longo beijo de amor. Enquanto isso, no mesmo momento e levada pela sede que
o Sol da tarde fazia, uma serpente descia cautelosamente do enorme eucalipto
onde vivia para beber na fonte. Era uma serpente de tamanho razoável e não fora
a circunstância de ter cabelo na cabeça, o que assustou os poucos que a viram,
nada de anormal teria acontecido. Consta que a serpente depois de saciar a sua
sede, voltava ao seu esconderijo na copa do eucalipto, não sem antes passar por
cima do pastor que dormia e sonhava sem se aperceber de tal facto. Aconteceu
que um dia, o pastor acordou mesmo no momento em que a serpente passava por
ele. Mais admirado que assustado, o valente pastor que viu nos olhos do réptil
uma certa doçura que o comoveu, passou-lhe a mão pelo dorso acetinado e
deixou-a seguir em paz o seu caminho. A partir desse dia, a serpente demorava
mais um pouco junto ao pastor, sempre à espera do seu doce afago. Até que um
dia, levado pelo ímpeto do seu sonho favorito, o pastor beijou a serpente
imaginando beijar a mulher dos seus sonhos. Tudo que aconteceu naquele momento,
foi o culminar de um desejo que despertou aqueles dois seres. O pastor do seu
lindo sonho, a serpente do seu fatídico feitiço. Logo ali, num lampejo de
magia, uma bela mulher de longos cabelos, pele morena e olhos negros, apareceu
deitada ao lado do pastor que arrebatado pela paixão, logo a pediu em casamento
entre juras de amor. Perante o júbilo ladrar do cão, em ver o seu dono mais
feliz que nunca, o povo ocorreu àquele lugar testemunhando o edílico quadro de
amor, à sombra do eucalipto e junto à fonte a que deram o nome de “Fonte dos
Amores”. O Leça corria calmo no seu leito e nas terras de S. Lourenço de Asmes
a que chamaram Bela, por entre a caruma e as folhas de eucalipto, via-se uma
pele de serpente quase ressequida ao Sol.»
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