ESPAÇO GEOGRÁFICO
Durante muitos anos, o lugar da Bela esteve isolado da restante freguesia de Ermesinde, principalmente a partir de 20 de Maio de 1874 (dia da inauguração da Linha do Minho), com a construção da ponte sobre o Leça e do pontilhão (em 1873) que dava acesso à única via de entrada nesse agregado populacional.
Tendo o rio Leça a Sul e a Linha do Minho a poente, restava tanto a norte como a nascente uma vasta região de bouças, onde pontificavam imensos eucaliptos e pinheiros por onde a população ia desbravando caminhos, para ter acesso à Boavista, Folgosa, Alto de Vilar e Alfena.
Para acesso à sede da Freguesia, apenas duas milenares e estreitas pontes de pedra, davam passagem ainda que precária, quando não ficavam submersas no inverno em dias de grandes cheias, como aconteceu muitas vezes. Como as maiores que aconteceram em 1909, 1959, 1962, 1972 e as mais recentes no dia de Natal de 1995 e a de 6 de Dezembro do 2000. De resto, a população vivia isolada apenas com acesso à Travagem pelo pontilhão. E foi assim nessa “ilha”, que a população da Bela viveu mais de um século até à década de 90 no século XX.
Com o aumento da população a rondar os 2.500 habitantes em 1974, as ruas que existiam na Bela ainda eram em terra, o que provocava grande poeira no verão com automóveis a passar e o desconforto da lama no inverno. Só no ano de 1976, alguns homens decididos do lugar, emanados do espírito que a revolução de Abril acendeu, pegaram em ombros a tarefa de organizar um peditório pelo lugar, com o intento de calcetarem as ruas. Com a ajuda da Junta de Freguesia (descapitalizada na época), que mesmo assim, ainda disponibilizou operários e a logística necessária ás obras.
O “ISOLAMENTO” DA BELA
Muito se combateu esse isolamento, com protestos e artigos em “A Voz de Ermesinde”, como é o caso de Afonso Maça, que no dia 30 de Setembro de 1991, escrevia assim sob o título ”Ermesinde trinta anos mais tarde:
«Ontem o João da Silva Saudade não chegara a passar o Rio Leça para a margem direita a fim de percorrer o pitoresco Lugar da Bela. Vira ao Longe um frondoso pinhal que há uma dúzia de anos se prolongava quase até ao rio. Hoje um enorme casario galgou sobre o pinheiral.
Conhecia como ninguém estas paragens. Não fora ele amante da natureza e da vida ao ar livre! Tinha aqui alguns amigos da sua da sua condição social. Uma meia dúzia de casas muito encostadinhas à Linha do Minho como que a significar que o progresso passava ao lado. Atarracadas umas nas outras para se protegerem melhor do frio e porem em comum as muitas misérias que as unem. São pessoas que foram atiradas para este lugarejo de outrora e nele permanecem até hoje. (...)
(...) — Mas ainda continuam a entrar por este Pontão! O mesmo da minha juventude! Nessa altura a Bela não tinha praticamente nenhum carro, hoje tem centenas. Será que este Pontão pertence ao Património Artístico Nacional e por tal facto não quererão tocar nele?»
No ano de 1996 começaram as obras para o alargamento do pontilhão e rebaixamento da rua Bartolomeu Dias. O Jornal “A Voz de Ermesinde” dava destaque da notícia, com o título: “A Primeira ligação ao Lugar da Bela está a mudar o visual”, pelo punho do articulista Marques de Almeida:
«Finalmente os moradores do lugar da Bela respiram de alivio ao assistir, com imensa alegria, ao decorrer das obras de grande transformação da entrada para aquele lugar, no sitio onde, ainda há pouco tempo, existia desde o longínquo ano de 1875, um estreito pontilhão, onde nesse mesmo ano, foi assente a linha do Caminho de Ferro do Minho, e que foi alargado para dez metros.
Com efeito, as sete habitações térreas, em estado de degradação desde há muitos anos, eram conhecidas pelas “Casas do Albertino Preto”, que davam uma imagem pouco digna àquele lugar, tiveram, finalmente o destino, o destino que desde há muito ansiosamente se esperava; foram vítimas do camartelo implacável da nossa edilidade camarária.
Com esta medida, que na nossa opinião, merece da parte de toda a população daquele lugar um justo aplauso, assistimos, sem duvida, a uma mudança radical de degradado visual daquela entrada, em boa verdade, nada dignificava aquele já tão populoso povoado sobranceiro à margem direita do bucólico Rio Leça.
Mas não só este significativo melhoramento se operou naquela entrada, como também prosseguem, a um bom ritmo, as obras de rebaixamento do piso da rua, que possibilitará no futuro, que esperamos seja breve, a criação duma tão desejada e bem necessária, carreira de autocarros para aquele lugar.
(...) está também nos planos da Câmara, um possível alargamento da mesma rua até à Escola da Bela, o que seria ouro sobre azul, a merecer, igualmente, os encómios de todos os habitantes, já bastantes sacrificados.
Com estas obras é caso para “A Voz de Ermesinde” dar os parabéns aos felizes residentes do Lugar da Bela.»
REPAVIMENTO DA RUA DA BELA 2010
REPAVIMENTO DA RUA DA BELA 2010
A RUA DA BELA VISTA DO ALTO
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